Não me perguntem qual o estilo predominante na minha casa, porque eu não sei.
Sei que, como busca ser uma casinha de campo na cidade (assim a senti, e assim a quero), terá sempre um quê de inspiração rural e, inevitavelmente, uma boa parte urbana.
Contudo, no que toca às tendências de decoração de interiores, é apenas isso que eu lhe posso perceber: tendências!... E não um sentido único, uma regra determinada.
E de outra forma não poderia ser, pois sempre me identifiquei com a mistura de culturas, seja na arte, seja na moda, e muito na gastronomia, que me agrada a de fusão.
De resto, a decoração que fazemos dos espaços reflecte a nossa personalidade e a nossa forma de estar no mundo, de entre tantos outros factores, conscientes e inconscientes. Donde, pode lá o ser humano, cuja natureza é de si multidimensional, ser tão atinadinho (e limitado), que consiga definir inteiramente aquilo de que gosta e de que não gosta? Quiça não goste disto ou daquilo porque não o experimentou, porque a vida lho deu a provar da pior forma, por isto ou por aquilo... Sobretudo, e em tudo, "eu sou eu e a minha circunstância" (Ortega Y Gasset).
Mas não deixa de ser verdade que, pensando no assunto, consigo identificar algumas inclinações para este e aquele estilos na decoração da casa; vejamos:
É evidente que um forte sentido rústico comanda as minhas escolhas. Não um rústico puro e duro, quase rupestre, mas lembrando a aldeia, simples e despojado, como se mesmo ali ao lado ficasse a horta, a coelheira, o galinheiro e o poço de que dependeria a minha sobrevivência. Já agora, ainda bem que tive a oportunidade de viver tudo isso em criança, pois é experiência que deixa saudades (e competências).
(ambientes intensamente rústicos, e que dificilmente permitem assegurar a segurança e a higiene, bem como a funcionalidade, que hoje em dia exigimos)
No entanto, a cortar com esse traçado de extrema humildade, impõe-se um registo de tipo provençal (rústico romântico), que se traduz por uma maior luminosidade, um maior cuidado, mais serenidade também; imprime algo de bucólico, digo eu. Apesar dos acabamentos desgastados e patinados, tudo se torna mais light quando pontuado por elementos florais (que no meu caso são subentendido nas cores, pois abomino padrões floridos, assim como as rendas, também frequentes neste estilo, mas interditas no meu mundo).
Visto que não me agradam estampados florais, escolhi, propositadamente, imagens que os não priviligiem.
Quer então dizer que o estilo que prevalece lá por casa segue uma orientação campestre (com abordagens à natureza, a procura de refúgios acolhedores e referências de rusticidade) mas escusa-se ao excesso de romantismo, de delicadeza e de feminilidade, a meu ver heranças da antiga presença de uma dona de casa zelando pelo equilíbrio do lar (quando mandam os tempos que a mulher saia porta fora e contribua para o equilíbrio do mundo). E, por tudo isso, não chega a assumir-se como estilo cottage, alegadamente bem mais elaborado, ornamental e detalhado que o provençal. Daí que estou sempre com medo que me entrem por uma loja de decoração e me comprem qualquer coisa suave e floral, quando disso basta o que recebo quando abro a porta para o quintal. É que essa coisa de shabby chic, como agora sói dizer-se, peca por ser demasiado afectada e nada minimal. E com todos esses objectos que agora se vendem por aí a imitar o antigo, os ambientes passam a cenários, o natural a artificial, o simples a confuso, o arejado vira soterrado.
Apresento um pequeno exemplo (e nem por isso com as melhores imagens de que disponho para o efeito, mas com as que tenho mais à mão):
E sendo certo que alguns dos itens decorativos que possuo são meras imitações (certos vasos e molduras, mais recentemente uma galinha em ferro forjado para colocar os ovos, e até as poleias para a prateleira rústica que pretendo na cozinha), outros são originais (algumas cadeiras e um banco, o candeeiro a petróleo da avó, a tábua com que será feita aquela prateleira). Quero com isto dizer que, sem dramas, preconceitos nem obstinações, sempre que possível, dou prioridade ao que seja genuíno. A forma como combino uns e outros é, claro, muito minha. Mas se há uma coisa que eu tento não fazer, é forçar, introduzindo elementos que não tenham qualquer função, e que irão ali ficar apenas para fingir qualquer coisa que não é. Concordo plenamente com este artigo: o que faria uma charrua ou uma peneira de palha no meu quintal, senão de conta? Outra coisa que me faz confusão é ver imagens de espaços que na realidade não podem ser assim; que não resultam, não satisfazem; que apenas serviram para proporcionar uma fotografia e sair numa revista.
O estilo country puxa realmente por mim, pelo que se a casa fosse na pradaria, não me daria ao luxo de procurar a brancura que me vem orientando, e adoptaria de uma vez por todas 'a moda celeiro'. Não vou por aí, ou seria fachada, e o mais perto de uma cabana que eu tenho é mesmo o anexo, e esse nem o sei definir, não apenas porque ainda está vazio lá por dentro, mas também ainda algo vazio na minha cabeça. Por fim, sinto também como que uma certa presença do estilo toscano aqui e ali, sobretudo no exterior. Mas isto são outros quinhentos, e não quero confundir ninguém, e muito menos a mim. Lá digo eu: miscigenação de estilos, afinal, se bem que muito diluída, esbatendo-se as fronteiras, tentando que o melhor de cada nos leve por um caminho único, o do bem-estar. Quer até parecer-me que cada divisão poderá ter, meio que em surdina, um maior pendor por parte de um estilo: a cozinha a puxar mais à aldeia, o quarto um pouco mais provençal, a sala de tendência mais fusional.
Com tudo isto, sei bem melhor do que não gosto: da austeridade medieval, dos excessos de requinte de tipo imperialista presente no estilo victoriano, da exuberância barroca (aqueles brocados, torneados, dourados, entalhes, é que nem vê-los!). Também não aprecio o estilo moderno, demasiado recto, sofisticado, colorido ou clean. E nem o retrô ou vintage (anos 20 a 60), por demais citadinos; nomeadamente o art-deco, tipicamente cosmopolita. Já o estilo contemporâneo, não me faz nem bem nem mal e depende das escolhas.
Mas existem outras tendências e influências que também me agradam, tais como as étnicas: a africana, a oriental, o estilo marroquino, o mexicano; inspirações cuja beleza reconheço, apesar de não as adoptar.
Outro estilo a que acho particular piada é ao industrial, muito usado em lofts anglosaxónicos feitos de antigos armazéns, fábricas ou mesmo igrejas, com imenso tijolo à vista, os bancos de rosca, aquelas janelas em ferro que eu adoro (pivotantes e basculantes - cuja rotação se faz em torno do eixo) e alguns outros apontamentos que aprecio sobremaneira, mas que dificilmente conseguem alinhar com as restantes inspirações de que sou fã.
Em todo o caso, aquilo de que sou fã estou eu longe de o conseguir exprimir de uma penada. Até porque, a par do gosto pelo branco de umas paredes caiadas cobertas de sol com as janelas abertas de par em par e o horizonte a invadir a alma, também me agrada a exigência da terra, a frieza da pedra, o rudimentar forno a lenha e toda uma crueza quase primitiva, que puxa pelo corpo, que só existe realmente no campo e que segue o filão oposto ao da conquista do conforto; mas que talvez seja o que me impede de me tornar demasiado "certinha" no que aos estilos diz respeito, buscando conservar o que é simples e natural, numa secreta procura pelo básico, pelas raízes, por qualquer coisa de mais atávico, talvez.
Por fim, aprendi há pouco tempo um conceito que parece vir ao encontro dos meus objectivos de decoração: o de wabi-sabi. Segundo li aqui, ‘wabi’ refere-se a ‘coisas simples e frescas’ e ‘sabi’ a coisas cuja beleza ‘foi adquirida com a idade’. Assim, "a decoração wabi-sabi tem por base uma estética minimal onde sobressai a naturalidade, a simplicidade e a rusticidade das peças. Procura demarcar-se do luxo e da ostentação, da evolução tecnológica ou do design moderno. As imperfeições e os sinais da passagem do tempo assumem-se como testemunhos de vida. É a beleza das coisas tal qual como elas são. Aqui, a espiritualidade, as boas energias e o conforto dentro de casa são encarados como algo fundamental, mas para isso os espaços não podem estar repletos de objectos, há que eliminar o supérfluo".
Eis, então, os principais mandamentos deste estilo, com cuja maioria dos quais é certo que me identifico: "privilegiar ambientes minimalistas e modestos, funcionais e sentimentais; manter as divisões pouco cheias; assumir como base o branco e os tons terra; dar primazia a materiais como a madeira envelhecida; pedra; barro; lã; algodão; linho; evitar o plástico, mármores, vidro e lycra [à parte a questão do mármore, que é uma pedra natural, tudo o resto subscrevo]; reciclar ao máximo; reaproveitar objectos, comprar em antiguidades ou feiras; rodear-se de tudo o que está ligado à natureza: plantas, flores, ramos de árvores; manter os espaços organizados; beneficiar ao máximo da luz natural; aceitar a beleza da imperfeição e das formas irregulares; decorar com peças sentimentais, como fotografias ou têxteis bordados à mão [esta não sigo inteiramente, por causa dos bordados]; encontrar um ‘recanto’ no qual se possa dedicar à meditação".
Apresento um pequeno exemplo (e nem por isso com as melhores imagens de que disponho para o efeito, mas com as que tenho mais à mão):
Um ambiente rústico simples ("usa-se o que há") e um shabby chic intenso, muito composto e adornado.
E sendo certo que alguns dos itens decorativos que possuo são meras imitações (certos vasos e molduras, mais recentemente uma galinha em ferro forjado para colocar os ovos, e até as poleias para a prateleira rústica que pretendo na cozinha), outros são originais (algumas cadeiras e um banco, o candeeiro a petróleo da avó, a tábua com que será feita aquela prateleira). Quero com isto dizer que, sem dramas, preconceitos nem obstinações, sempre que possível, dou prioridade ao que seja genuíno. A forma como combino uns e outros é, claro, muito minha. Mas se há uma coisa que eu tento não fazer, é forçar, introduzindo elementos que não tenham qualquer função, e que irão ali ficar apenas para fingir qualquer coisa que não é. Concordo plenamente com este artigo: o que faria uma charrua ou uma peneira de palha no meu quintal, senão de conta? Outra coisa que me faz confusão é ver imagens de espaços que na realidade não podem ser assim; que não resultam, não satisfazem; que apenas serviram para proporcionar uma fotografia e sair numa revista.
Aqui não sei se é possível considerarmos uma versão light do shabby chic; uma tentativa de prossecução do estilo mas num modo mais ligeiro, mais suave e bem mais discreto; na verdade, um tanto mais "plástico". Não juraria, mas...
Vai daí, eu arriscaria dizer que o meu tipo de rústico, apesar de percorrer vários expectros, se situa algo orientado para o estilo colonial, um pouco mais cuidado, mais morno e aconchegante do que o rústico puro, mas ao mesmo tempo mais sóbrio do que o rústico embonecado, por demais mimoso e para mim enjoativo.
Falta ainda referir que não me vejo apenas como de pedra e cal (aqui no sentido de aldeia), nisso da decoração, mas também um pouco madeira e ferro, terra e fuligem. É dizer: ambientes demasiado acépticos não são propriamente a minha praia.O estilo country puxa realmente por mim, pelo que se a casa fosse na pradaria, não me daria ao luxo de procurar a brancura que me vem orientando, e adoptaria de uma vez por todas 'a moda celeiro'. Não vou por aí, ou seria fachada, e o mais perto de uma cabana que eu tenho é mesmo o anexo, e esse nem o sei definir, não apenas porque ainda está vazio lá por dentro, mas também ainda algo vazio na minha cabeça. Por fim, sinto também como que uma certa presença do estilo toscano aqui e ali, sobretudo no exterior. Mas isto são outros quinhentos, e não quero confundir ninguém, e muito menos a mim. Lá digo eu: miscigenação de estilos, afinal, se bem que muito diluída, esbatendo-se as fronteiras, tentando que o melhor de cada nos leve por um caminho único, o do bem-estar. Quer até parecer-me que cada divisão poderá ter, meio que em surdina, um maior pendor por parte de um estilo: a cozinha a puxar mais à aldeia, o quarto um pouco mais provençal, a sala de tendência mais fusional.
Com tudo isto, sei bem melhor do que não gosto: da austeridade medieval, dos excessos de requinte de tipo imperialista presente no estilo victoriano, da exuberância barroca (aqueles brocados, torneados, dourados, entalhes, é que nem vê-los!). Também não aprecio o estilo moderno, demasiado recto, sofisticado, colorido ou clean. E nem o retrô ou vintage (anos 20 a 60), por demais citadinos; nomeadamente o art-deco, tipicamente cosmopolita. Já o estilo contemporâneo, não me faz nem bem nem mal e depende das escolhas.
Mas existem outras tendências e influências que também me agradam, tais como as étnicas: a africana, a oriental, o estilo marroquino, o mexicano; inspirações cuja beleza reconheço, apesar de não as adoptar.
Outro estilo a que acho particular piada é ao industrial, muito usado em lofts anglosaxónicos feitos de antigos armazéns, fábricas ou mesmo igrejas, com imenso tijolo à vista, os bancos de rosca, aquelas janelas em ferro que eu adoro (pivotantes e basculantes - cuja rotação se faz em torno do eixo) e alguns outros apontamentos que aprecio sobremaneira, mas que dificilmente conseguem alinhar com as restantes inspirações de que sou fã.
Nenhuma destas imagens é aquela que eu tinha na ideia mostrar, pois não a encontro.
Em todo o caso, aquilo de que sou fã estou eu longe de o conseguir exprimir de uma penada. Até porque, a par do gosto pelo branco de umas paredes caiadas cobertas de sol com as janelas abertas de par em par e o horizonte a invadir a alma, também me agrada a exigência da terra, a frieza da pedra, o rudimentar forno a lenha e toda uma crueza quase primitiva, que puxa pelo corpo, que só existe realmente no campo e que segue o filão oposto ao da conquista do conforto; mas que talvez seja o que me impede de me tornar demasiado "certinha" no que aos estilos diz respeito, buscando conservar o que é simples e natural, numa secreta procura pelo básico, pelas raízes, por qualquer coisa de mais atávico, talvez.
Por fim, aprendi há pouco tempo um conceito que parece vir ao encontro dos meus objectivos de decoração: o de wabi-sabi. Segundo li aqui, ‘wabi’ refere-se a ‘coisas simples e frescas’ e ‘sabi’ a coisas cuja beleza ‘foi adquirida com a idade’. Assim, "a decoração wabi-sabi tem por base uma estética minimal onde sobressai a naturalidade, a simplicidade e a rusticidade das peças. Procura demarcar-se do luxo e da ostentação, da evolução tecnológica ou do design moderno. As imperfeições e os sinais da passagem do tempo assumem-se como testemunhos de vida. É a beleza das coisas tal qual como elas são. Aqui, a espiritualidade, as boas energias e o conforto dentro de casa são encarados como algo fundamental, mas para isso os espaços não podem estar repletos de objectos, há que eliminar o supérfluo".
Eis, então, os principais mandamentos deste estilo, com cuja maioria dos quais é certo que me identifico: "privilegiar ambientes minimalistas e modestos, funcionais e sentimentais; manter as divisões pouco cheias; assumir como base o branco e os tons terra; dar primazia a materiais como a madeira envelhecida; pedra; barro; lã; algodão; linho; evitar o plástico, mármores, vidro e lycra [à parte a questão do mármore, que é uma pedra natural, tudo o resto subscrevo]; reciclar ao máximo; reaproveitar objectos, comprar em antiguidades ou feiras; rodear-se de tudo o que está ligado à natureza: plantas, flores, ramos de árvores; manter os espaços organizados; beneficiar ao máximo da luz natural; aceitar a beleza da imperfeição e das formas irregulares; decorar com peças sentimentais, como fotografias ou têxteis bordados à mão [esta não sigo inteiramente, por causa dos bordados]; encontrar um ‘recanto’ no qual se possa dedicar à meditação".
Imagens representativas do estilo wabbi-sabi... De uma simplicidade desconcertante.
A últimas das imagens pertence à Companhia das Culturas (Agroturismo), em Castro Marim: http://companhiadasculturas.com/
A últimas das imagens pertence à Companhia das Culturas (Agroturismo), em Castro Marim: http://companhiadasculturas.com/
À guisa de conclusão: muitos conceitos vão sendo criados (na tentativa de diferenciar as tendências, e quantas vezes entrecruzando-as), mas que importa dar nomes às coisas e saber de cor e com toda a propriedade qual o estilo que impera aqui e ali, se o ambiente de um espaço é isso mesmo: "ambiente"... E assim como para Kant "a estética é o que agrada sem conceito", o ambiente de uma casa é aquilo que é dado sentir a cada qual que nela entre e dela frua. É a alma, a aura, a ressonância, são as vibes; e não se explica, sendo da sua natureza escapar-se a qualquer tentativa de definição que o tente aprisionar.