Devo ter tido sorte, não sei. É que sempre gostei de casinhas já com alguma idade (com uso, história e memória) e modestas em tamanho. Não sei se estou sozinha no mundo quanto as estas preferências, mas se estiver, pode parecer que minto. De todo! Fico assustada só de pensar na circunstância de ter várias e amplas divisões a que não daria uso (não sou nem doméstica nem caseira) e que jamais iria conseguir controlar (não tenho, nem quero, empregada), nem sequer apreciar. E uma casa novinha em folha não tem segredos nem alma, não viveu coisa nenhuma. E que difícil seria que tivesse uma decoração minimamente de acordo com o meu jeito de ser. Não!... A minha casa ideal sempre foi como descrevi em cima, e as outras que fiquem para quem com elas sonhe, e boa sorte!
Mas dizia eu que devo ser sortuda... por gostar do que até dá jeito. Porque uma casa que não é nova sempre fica mais em conta, e isso acaba por compensar o facto de ser mais cara por se situar em Lisboa. Mas, na verdade, o valor que damos por uma casa é tão relativo quanto isto: quanto é que vamos investir em obras?; em quanto é que a casa está avaliada?; como é o ambiente que a rodeia?; será que iremos gastar apenas o que previmos, ou defrontar-nos com vários imprevistos?...
Porquanto o melhor é tentarmos comprar a casinha que queremos (e que podemos, claro), mas sem demasiados preciosismos em relação a essa coisa do "mais tostão, menos tostão", que, na altura certa acaba por dar errado. Isto não serve de conselho (quem sou eu?!), apenas de opinião.
A minha casa não é grande. Mas, desde o primeiríssimo instante em que a visitei, logo senti o que nunca mais deixei de sentir: que é uma grande casa! Grande porque "permite"... Permite tanto! E tem espaços específicos, e cantos confortáveis, e lugar para arrumos, e áreas arejadas e enfim...
Na brincadeira, conto assim as suas divisões: vestíbulo, copa, living, alpendre, toilette, aposentos, closet, aprovisionamento, jardim e cabana. Claro que tudo isto para dizer o que facilmente se entende: que não deixa de ser uma casinha simples; mas simples na medida exacta. E que pode até chegar a ser grande demais, dependendo da perspectiva: parece muito para recuperar, para revestir, para mobilar, para decorar, para arrumar, para limpar...
Optei por fazer esta explicação, pois creio que irá facilitar a leitura da remodelação que está a ser feita nesta casinha cujas dimensões (não apenas as físicas, mas também as outras) são exactamente como deveriam ser para me encantarem como me encantaram. Ao fim e ao cabo, foi amor à primeira vista!
- Hall de entrada
- Cozinha
- Despensa
- Sala de estar
- Casa de Banho
- Quarto
- Arrumos
- Marquise
- Quintal
- Anexo
As divisões que mereceram maior investimento, quer de atenção (escolha dos materiais a utilizar) quer de mão-de-obra (intervenções), quer ainda, e por consequência, financeiro, foram, por ordem decrescente, a cozinha, o wc, o quarto, o anexo (o "apê" é um T1+1) e o quintal, ele mesmo com vários espaços diferenciados: para já, a zona da churrasqueira (que deverá vir a ser pergolada; não sem eu antes perceber o comportamento do sol), a de canteiros e o caramanchão.
Já agora, o anexo do quintal começou por configurar uma espécie de estúdio, misto de recanto essencialmente zen com saleta de exercício e lugar onde guardar a bicicleta. Mas, aos poucos, ganhou forma um outro sentido, um outro destino: será uma sala, na sua plenitude, ainda que de fusão: por um lado, escritório (uma mesa grande permitirá espalhar livremente a papelada e trabalhar nos meus projectos mais amplos - que para as escritas do dia-a-dia previ um pequeno home-office no meu quarto); por outro, refúgio para lazer e relax (um armário transformado em banco será um spot de luxo à janela) e de convívio em grupo (seja refeição, jogatana ou festança), sempre que o tempo não esteja de feição para se estar ao ar livre. Porque se constitui como um espaço intimista, não irá ter televisão, mas, em contrapartida, contará com uma salamandra. E mais não sei, por enquanto. Será aos poucos...
O interior da despensa, ainda que simples, foi projectado por mim, e a marquise está concebida para proporcionar sossego, descontração e tranquilidade, bem como longas leituras e conversas.
Por fim, nem o hall nem os arrumos mereceram especial pensamento, até agora. E não creio que o vão merecer. Sei bem que se diz que a entrada de uma casa deve isto e aquilo, assim e assado; mas o facto é que essa se percorre com um passo para a frente e dois para os lados. E mais me importa que me abra caminho com a sua brancura simples e despretensiosa, do que se tente fazer passar por mais do que é. O quartinho de arrumos, esse é apetrechá-lo com um varão e armários ou prateleiras, muito úteis para guardar um pouco de tudo, das roupas mais pesadas e invernias a livros, de atoalhados a máquinas, e tralhas diversas.
De alçado tardoz (voltada para as traseiras), quase toda a casa beneficia da uma boa vista para o quintal, que providencia um silêncio fantástico, compassado apenas pelo trinar dos pássaros; uma sensação de maior segurança (por não ser visível da rua principal e dar para um acesso vedado) e intensa luminosidade (virada a sul, é extremamente soalheira, quer de verão, quer de inverno).
Facto curioso, é o de ter sentido como que uma "pressão preferencial" (apetece-me a expressão assim), por parte de outros, no sentido de abrir a sala para a marquise (criando assim aquele "L" de que aqui se fala sob o mote de "
ambientes integrados"). Sequer suportei imaginar tal coisa! Ganharia uma sala maior (para quê?), a acabar à beira do pátio, mas perderia o prazer de ter um espaço bem mais acolhedor porque protegido (e, ainda assim, recebendo luz directa do quintal, o que é interessante), e aquele corredor envidraçado, como um solário...
Digo, repito e torno a dizer: a casota conquistou-me exactamente pelas suas características. E foi por isso que nenhuma parede foi abaixo ou mudou de lugar, nenhuma divisão passou a ser outra, nenhum canteiro foi sacrificado, sequer as árvores que já ali viviam e gozavam de plena saúde. O meu instinto foi o de valorizar a habitação sem tirar o valor que ela já tinha. Na verdade, de que forma os outros nos valorizam, se não for reconhecendo o valor que temos? Desconheço outra!
Tanta conversa, mas nenhuma imagem, n'é? Resta imaginar, enquanto tudo não acontece...
Para alegrar a espera, deixo esta imagem de empréstimo, encontrada não me lembro onde.
See ya soon!