Quando escolhi o tipo de tampo que eu achava ideal, fi-lo
presencialmente, com base numa amostra de mármore que vi na fábrica, de lioz
abancado, bujardado e envelhecido. Os dois últimos predicados referem-se ao
acabamento, sendo verdade é que não me agrada nada o efeito do mármore todo polido e a brilhar, bem antes um ar de coisa que não é de agora. Já agora, o polimento abre os tons naturais da pedra mármore (ficam mais carregados), ao passo que os produtos para o envelhecerem tendem a aclará-los. Para além disso, qualquer elemento ácido (uma simples rodela de limão) ataca o brilho do mármore, deixando uma marca permanente. Mas, sobretudo, agradou-me, na amostra que me foi dada a ver, um aspecto não apenas desgastado, mas aparentemente carcomido pelo uso. É aqui que entra o bujardado, ou seja: a peça é metralhada com gravilha que a deixa com pequenas mutilações. Achei a amostra linda!!!
(Amostra de mármore de lioz abancado bujardado e envelhecido, sem "vieux")
(Amostra de madeira então pensada para os armários: carvalho lacado a branco)
(Amostra de madeira então pensada para os armários: carvalho lacado a branco)
Na altura julgava que os móveis da cozinha iam sair mais brancos e
menos pérola, e achei que um bom casamento entre eles e os mosaicos-pastilha da
parede seria este mármore, desde que parecido ao que eu tive oportunidade de
ter na mão, ou seja, num tom que, após o tratamento, se assumia como mais
tendente ao rosado... uma mistura que varia entre a cor de pedra natural, um ‘pó-de-arroz’
mediador e, no mais extremo dos seus veios, o terracota. Portanto, nem amarelado,
nem acinzentado, nem acastanhado, nem demasiado escuro, nem com excesso de
laivos e, de alguma forma, minimamente homogéneo.
(Primeira pedra apresentada, mas pequena)
A primeira pedra que me apresentam não me pareceu nada feia (as fotografias mostram-na em parte seca e em parte molhada, aparências respectivamente aproximadas dos efeitos bujardado e polido), mas impõe-se-me uma nova questão: o dono da fábrica diz-me que não me consegue arranjar tampos tão longos, que o máximo que conseguiriam seria 255 cm, e que, por isso, o meu balcão teria de ter uma união. E isso é que eu não queria! Vai daí, pedinchei,
pedinchei muito, e lá ficaram de tentar arranjar-me tais peças. Eu esperei.
(Desenho dos tampos, ainda com a intenção de corte no superior)
Certo dia lá me dão sinal verde e enviam-me imagens. Confesso que por elas não consegui perceber se as peças tinham alguma coisa a ver com a amostra pela qual me decidira:
(Pedra suficientemente comprida, mas com laivos escuros)
Mais tarde enviam-me foto
de outra pedra, alegadamente bem mais conforme, em aspecto, àquilo que eu
desejava, alegando que a pedra anterior possuía veios demasiado escuros (aqui não os vejo, mas acredito). No entanto, as fotos não se me apresentam esclarecedoras e eu não tenho tido qualquer oportunidade para me deslocar à Ericeira a horas de o responsável pela empresa
me receber. Resta-me confiar na sorte, o que é sempre mau nestas coisas. E se
tivermos em conta que me encontro a gastar mais de mil euros só neste trabalho,
pior se torna. Por fim, trata-se da cozinha... divisão que para mim sempre foi a mais agradável de imaginar composta.
(Segunda proposta de pedra, com a amostra original, para comparação)
Para já, percebi que as placas que aí vêm evidenciam umas manchas fósseis (aquelas áreas a branco, como se fossem pedaços de gordura mas cristalizados) que a amostra que eu vi não tinha. Logo aí, já são diferentes. Suspeito que o processo de envelhecimento a que será sujeita não as vá disfarçar. E o que mais receio é que o tom final (aquele que sobressai, no geral, da pedra inteira) não seja em nada parecido com o da pecinha pela qual me apaixonei. Porque isto de tentarmos fazer-nos entender aos outros em matéria de cores, é sempre difícil. Muito mais em se tratando de um material tão variável quanto a pedra. E eu nem sei se o indivíduo percebeu que as similitudes que eu procuro entre a amostra e a pedra para a minha bancada são, exacta e fundamentalmente, de tom. É que tudo pode ter sido lost in translation! Olhando com atenção, parece-me que a amostrinha tem mais cor, mais efeito, mais personalidade. Por fim, nada me diz que o mármore de lioz fique bem com móveis de madeira pérola. Na verdade, nem sequer é provável. Já para móveis brancos (como estiveram para ser) era arriscado, agora é quase perigo de morte!
E tudo isso me preocupa!
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